sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sexto dia

Foi difícil descansar esta noite, mas não perdi a hora.
Em dias difíceis não é fácil conter as lágrimas, alguma coisa dói e não sabemos exatamente onde.

Depois do exame de hoje já consigo me sentir melhor para falar: com as pessoas, com a dor, comigo mesma, pedir ajuda, entender melhor tudo isso.

Então comecei a procurar aos poucos falar com as pessoas, expor algo sem muitos detalhes, procurar pessoas que já passaram pela mesma situação. E acredite, existe uma força muito boa nisso. Muito!!

Por mais que não exista uma relação próxima de amizade, muitas pessoas tem palavas afetuosas a oferecer e os exemplos de vida, demonstram novos horizontes.

É possível conversar com aquela tristeza encolhida no canto e começar a fazer desabrochar a novidade da "vida que segue".

Foi com o sentimento de esperança e paz que o dia foi terminando hoje e mais uma vez, só tenho a agradecer por mais um dia!  

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Terceiro dia

É uma oportunidade de conhecer melhor o que está acontecendo aqui!

Foi esse o primeiro pensamento esta manhã. Já consigo encarar as letras no pepel e procurar o que me faça entender tudo isso...

Me lembrando de cada palavra da médica que me atendeu, fui ponto a ponto procurando significados, elementos de compreensão que renovassem as forças para caminhar por esse vale desconhecido.

Comecei a pesquisar material realista e sério sobre a tireoide, suas funções, implicações da retirada...para tentar encarar com a mais centrada postura possível essa fase.

Foi hoje que encontrei vários dos artigos que vou aos poucos postando aqui.

Foi hoje o dia de fortalecer o desejo de otimismo e positividade e mais uma vez dizer:

Te quero, Vida!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Nódulos na tireoide

Procurando entender melhor o que estava acontecendo aqui dentro, encontrei uma entrevista do Dr. Drauzio Varela. com o Prof. Dr. Orlando Parise (médico cirurgião, especialista em cabeça e pescoço, que atua no corpo técnico do Hospital Sírio Libanês de São Paulo) 
 A glândula tireoide está situada na frente dos anéis da traqueia, entre o pomo de adão (proeminência da laringe no meio da região anterior do pescoço) e a base do pescoço, onde se localiza a fúrcula esternal. Com a forma de um H ou de um escudo (thyreos, em grego, quer dizer escudo), consiste num istmo central com um lobo do lado esquerdo e outro do lado direito (figura ao lado)

. Fixa à laringe por tecido conjuntivo, a glândula se movimenta com a deglutição.


A tireoide guarda uma relação complexa com outras estruturas anatômicas – veias, artérias, músculos e nervos – e produz os hormônios tireoideanos, responsáveis por diversos controles do organismo, como as batidas cardíacas, os movimentos intestinais, o poder de concentração do cérebro, o tônus da musculatura, a respiração celular.
No passado, a única forma de examinar a tireoide era por meio da palpação. Em geral, o médico se posicionava atrás do paciente e, com as mãos, procurava verificar se existiam alterações na glândula. Se o advento da ultrassonografia representou um avanço inegável no método de examinar a tireoide, pois permite o diagnóstico precoce de problemas graves, trouxe também consigo uma série de questionamentos. Pessoas que fazem ultrassom da tireoide descobrem a existência de dois, três, às vezes quatro nódulos absolutamente assintomáticos, e perguntam o que devem fazer diante desse achado. Muitas são encaminhadas para a cirurgia sem necessidade, porque temem conviver com o problema.
Drauzio  Por que surgem nódulos na tireoide?
Orlando Parise – Os nódulos da tireoide podem ter causas diversas. Podem ocorrer simplesmente por alterações da arquitetura morfológica da glândula, da forma como estoca os hormônios ou do substrato que usa para produzi-los, como podem ser neoplasias, ou seja, tumores malignos e benignos.
Não se sabe exatamente por que eles aparecem. Sabe-se, porém, que algumas condições predispõem ao surgimento dos nódulos. No caso específico do câncer, está provado que radiação na região da tireoide na infância, na base do pescoço, por exemplo, é causa comum da doença. Do mesmo modo, já se constatou que, em lugares como Hiroshima e Nagasaki, no Japão, e Chernobil, na Rússia, onde a exposição ambiental à radiação foi muito grande, a incidência de câncer da tireoide aumentou muito na população.
Entretanto, no que se refere aos nódulos, especificamente, não se conhece nenhuma causa que justifique seu aparecimento.
Drauzio  Obrigatoriamente, os nódulos provocam sintomas?
Orlando Parise – Não. Muitas vezes, 

a pessoa percebe que tem um nódulo, quando engole na frente do espelho e nota uma estrutura anormal no pescoço. Aliás, a maioria dos nódulos não é palpável nem visível. Como você bem colocou, vivemos hoje quase uma epidemia de diagnóstico de nódulos na tireoide que assusta muito. Trata-se de um fenômeno mais ligado à sensibilidade dos métodos de diagnóstico que temos hoje e não tínhamos no passado.
Sabe-se que 50% da população adulta têm nódulos na tireoide. Imagine a ansiedade que iríamos gerar se todas as pessoas fizessem ultrassom e descobrissem que metade delas apresenta o problema. Na imagem 3 

, temos um exemplo de nódulo visível e palpável, com indicação cirúrgica recomendada.


Drauzio  Os nódulos são mais frequentes nos homens ou nas mulheres?
Orlando Parise – São mais frequentes nas mulheres. Outro dado interessante é que, na infância, apenas 1% dos nódulos é palpável. Já, na idade adulta, esse número varia entre 5% e 7%.
Drauzio  Você disse que a prevalência de nódulos nas crianças é baixa. Com que idade essa prevalência começa a aumentar?
Orlando Parise – Ela é praticamente contínua ao longo dos anos. Nos idosos, a prevalência é maior do que nos adultos jovens, por exemplo. E mais: achados de autópsias rigorosas revelaram que 10% da população apresentavam microcarcinomas, isto é, tumores malignos de 1mm, 2mm, 3mm sem nenhuma repercussão nem manifestação clínica. Eram pessoas de idade avançada que tinham morrido de outras causas que não o câncer da tireoide.
Drauzio  Você poderia definir as palavras punção e tireoidectomia? 

Orlando Parise Tireoidectomia é a remoção terapêutica – parcial ou total – da tireoide e punção, o exame padrão que se realiza para conhecer o tipo de células que constituem o nódulo. A punção pode indicar que se trata de um nódulo maligno e a indicação, nesse caso, é cirúrgica; ou que é francamente benigno e a postura recomendada é observá-lo periodicamente pelo ultrassom. No entanto, muitas vezes, o resultado que deveria dar tranquilidade para o paciente gera muita ansiedade e são tomadas atitudes mais radicais e desnecessárias.


Drauzio – Como é feita a punção?
Orlando Parise – Para fazer a punção, o paciente não precisa de anestesia geral. No máximo, pessoas mais sensíveis recebem anestesia na pele. O exame consiste em introduzir uma agulha no nódulo e aspirar seu conteúdo com seringa especial para analisar sua celularidade.
Esse exame dá informação sobre o conteúdo do nódulo, mas não sobre sua arquitetura. Isso é um problema, porque para distinguir as doenças malignas das benignas é necessário conhecer a arquitetura da glândula e não apenas a celuridade do nódulo, uma vez que ela pode dar indícios, mas não permite fechar o diagnóstico. Por essa razão, muitas vezes, é indicada uma cirurgia para esclarecer as dúvidas geradas pela punção.
Drauzio  Nódulos de consistência firme, que crescem com maior rapidez, são candidatos à punção porque podem ser malignos? 
Orlando Parise – Nódulos celulares causam maior preocupação do que os nódulos císticos com líquido em seu interior. O exame de ultrassom permite estabelecer a diferença entre um tipo e outro.
Carlos Francisco Gurgel – Juiz de Fora/MG – Qual a diferença entre nódulos benignos e câncer?
Orlando Parise – Nódulos são um componente anatômico da glândula, uma alteração localizada do tecido, que forma um caroço. O nódulo pode ou não ser um câncer. Este se caracteriza pelo descontrole na proliferação do tecido da tireoide.
Drauzio  O que deve ser feito quando houver grande suspeita de câncer de tireoide?
Orlando Parise – Comparado com os outros tipos de câncer, o de tireoide é indolente e, em pouquíssimos casos, representa ameaça à vida. Até prova ao contrário, seu prognóstico costuma ser tranquilo, especialmente se o problema foi diagnosticado numa pessoa jovem. As mais idosas, porém, requerem cuidados especiais, porque o câncer de tireoide é um pouco mais agressivo biologicamente a partir da quinta ou sexta década de vida. Portanto, aos 50 anos, a punção do nódulo é sempre mais indicada do que na juventude.
Se quiser conferir a entrevista na integra, você pode acessar esse link aqui.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Quarto dia

Acordei bem cedo, a dor de cabeça persistente, mas lembrei das vitaminas e analgésicos que comprei ontem à noite. Tomei novamente.

Algumas horas de sono e acordei me sentindo bem melhor.

Conseguia mais programar coisas boas do que pensar no diagnóstico e são tantas coisas para celebrar que não deu muito tempo de remoer nenhuma dor. Hoje é dia de festa! Que bom estar feliz! Que bom poder agradecer! Sou uma privilegiada por tantas coisas!!! 

Te quero, Alegria!
Te quero, Saúde!
Te quero, Vida!

Foi hoje que decidi fazer o blog e compartilhar o pensamento positivo, o otimismo e as possibilidades que surgem todas as manhãs!

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Segundo dia

Acordei antes das 5h

Vesti meu sorriso amarelo, minha meia amarela, minha camisa amarela e fui ali ensolarada!

Saí de casa em jejum, antes das 6h, queria ser a primeira a fazer o exame de sangue, tanto que cheguei 30 minutos antes do horário e pacientemente aguardei.

Nessa espera observei que no silêncio do dia que se inicia, ainda é possível ouvir os pássaros, sentir uma brisa leve que toca a pele antes da fumaça dos carros, ver o carinho das pessoas que se cumprimentam com um sonoro Bom Dia!

Sorri!

Chegou o horário e a porta estava aberta, eu entrei e retirei a senha número 01 do dia, me sentei e aguardei ser chamada. 

Na primeira "entrevista" do dia me dei conta que não me lembrava o que havia comido ontem nem qual o horário da ultima refeição. Foi um exercício lembrar daquele delicioso suco de umbu com torradas crocantes e fresquinhas perfumadas com orégano, mas acho que agora ficaram inesquecíveis.

Fui tirar o sangue e me lembrei que poucos dias atrás eu me emocionei de ter saúde suficiente para doar sangue!

Hoje eu tenho saúde suficiente para sorrir e mais uma vez ser grata pelo dia ao qual disponho para caminhar na praia, ser feliz, desejar, trabalhar, compartilhar...

A técnica de enfermagem me perguntou se estava tudo bem. Eu respondi que estaria melhor se não houvesse que estar ali aquela hora, mas que eu estava bem sim e que ainda iria ficar bem melhor! Saí da sala com as primeiras lágrimas do dia. Agradeci o cuidado e segui minha caminhada.

Parei na feira da horta, comprei folhas frescas para o almoço e voltei pra casa.

Em casa preparei um suco e um sanduíche com uma das folhas fresquinhas enquanto conversava com minha cunhada, que carinhosamente falava sobre seu sono, sorrimos e fomos saindo juntas quando olhei o horário que já estava mais de 7h. Quase desisti de sair, mas doces foram as palavras que ela disse me incentivando a fazer uma caminhadinha, sem pretensão.

Cheguei na praia a tempo de garantir braços e rostos alegres de me ver, o sol, o circuito, o registro, uma boa conversa e uma carona. Não poderia ser melhor. 

Parei no caminho, diante da barraquinha de frutas e escolhi uma de cada: melancia, pinha, mamão, abacaxi e uma água de coco, lembrei que tinha manga em casa. Quando cheguei, enquanto tirava a casca e me deliciava com aqueles sabores me enchia de gratidão por poder viver aquela manhã tão doce.

Separei frutas e iogurte e fui pro trabalho. A tarde demorou a passar, mas foi bastante frutuosa. Na saída a companhia da colega me estimulou a caminhar alguns metros a mais sem receio e nos despedimos com um abraço. 

Cheguei em casa bem cansada, dormi no sofá. 




Primeiro dia



Saí de casa antes das 6h.

Cheguei para a consulta e aguardei alguns minutos a médica chegar, nada mais que 5 minutos. Nesse tempo fui para a pré consulta e tudo está normal, peso, altura, pressão e o sorriso da técnica de enfermagem!!

Chamam meu nome e lá vou eu para o consultório 05.
Chegando na porta, meio sem saber se seguro a agenda, a bolsa ou a maçaneta, desajeitadamente abro a porta. A pessoa que me aguarda de costas pede pra eu me sentar e faz uma série de perguntas de praxe. E eu respondendo com leveza e com um sorriso que eu tentava, para esconder a insegurança que estava naquele envelope.
Depois das perguntas e ficha preenchida, ela me pergunta o que me levou a procurá-la e mais uma vez respondi:
 - Estou fazendo uma série de exames para ver se está tudo bem e um deles apontou alguns nódulos e eu pedi para puncionar, apesar de não haver indicação em casos de nódulos tão pequenos...

Eu não sabia mais o que pensar quando vi seu olhar atendo ao resultado do exame.
Ela me perguntou se eu havia aberto antes, eu respondi que não - Meu esposo pediu que não abrisse para não ficar imaginando coisas.
Foi bom que isso aconteceu!
Nunca vou esquecer a doçura e força de suas palavras:

Está tudo bem, vou encaminhar você para alguns exames e um cirurgião que já acompanhou alguns de meus pacientes e está tudo bem.
Alguns exames de sangue, uma ultrassom da região e vamos marcar a cirurgia... seu diagnóstico me surpreendeu!

Lá estava o diagnóstico: "Suspeito de Carcinoma Papilífero"

Sair daquela cadeira não foi tão leve... uma profusão de sentimentos, misturados ao calor e acompanhados de uma listinha infinita de "coisas para fazer antes de..."

Nem me lembro como atravessei a rua para pegar o ônibus, porque as lágrimas "do desconhecido" já estavam ali, molhando meu rosto meio pálido. enxuguei as lágrimas e peguei o primeiro ônibus que passou. Dei bom dia ao cobrador que com um sorriso solar no rosto me respondeu:

"Bom Dia!! De estarmos vivos já temos mesmo que agradecer a Deus, não é?"  E eu disse: "é isso aí!!"

Eu só poderia concordar! Estou viva!
Sentei na primeira cadeira vazia que encontrei e busquei ali todos os sentimentos de gratidão possíveis em minha memória e coração. E encontrei muitos!

Ainda assim, eu não conseguia saber como iria chegar em casa e conversar com meu companheiro sobre isso! Então fiz muitas coisas entes de chegar!

Quando abri a porta, estava ele se arrumando para sair, fazer um favor, se doar em seu tempo e dom para transbordar seu amor do jeito mais sublime que ele sabe fazer! Nos abraçamos, choramos e dissemos mais uma vez do nosso amor um pelo outro!

Ele viajou! E eu fui trabalhar.

No trabalho, assim que subi as escadas e entrei na sala da coordenação para desejar uma boa tarde - um desejo que gritava de mim - que aquela fosse uma boa tarde!!!

Uma das estagiárias convidou a uma oração, todo o meu corpo desejava agradecer, não poderia vir aquele convite, em melhor momento! Ao mesmo tempo que eu desejava entender o que tudo aquilo queria mostrar, eu já agradecia pelo diagnostico precoce, pelas possibilidades de tratamento, pelo apoio que recebi em todo o dia, de forma inusitada, afetiva e calma.

E sutilmente a tarde passou. E a noite ainda havia uma reunião importante, que a proposito trouxe muitos bons frutos e ocupou mais uma parte deste longo dia.

Eu não me sentia pronta para falar sobre tudo isso. Fui pra casa em silêncio e reserva deste assunto.

Cheguei depois das 21h.

Falamos sobre outras coisas.