Procurando entender melhor o que estava acontecendo aqui dentro, encontrei uma entrevista do Dr. Drauzio Varela. com o Prof. Dr. Orlando Parise (médico cirurgião, especialista em cabeça e pescoço, que atua no corpo técnico do Hospital Sírio Libanês de São Paulo)
A glândula tireoide está situada na frente dos anéis da traqueia, entre o pomo de adão (proeminência da laringe no meio da região anterior do pescoço) e a base do pescoço, onde se localiza a fúrcula esternal. Com a forma de um H ou de um escudo (thyreos, em grego, quer dizer escudo), consiste num istmo central com um lobo do lado esquerdo e outro do lado direito (figura ao lado)

. Fixa à laringe por tecido conjuntivo, a glândula se movimenta com a deglutição.
A tireoide guarda uma relação complexa com outras estruturas anatômicas – veias, artérias, músculos e nervos – e produz os hormônios tireoideanos, responsáveis por diversos controles do organismo, como as batidas cardíacas, os movimentos intestinais, o poder de concentração do cérebro, o tônus da musculatura, a respiração celular.
No passado, a única forma de examinar a tireoide era por meio da palpação. Em geral, o médico se posicionava atrás do paciente e, com as mãos, procurava verificar se existiam alterações na glândula. Se o advento da ultrassonografia representou um avanço inegável no método de examinar a tireoide, pois permite o diagnóstico precoce de problemas graves, trouxe também consigo uma série de questionamentos. Pessoas que fazem ultrassom da tireoide descobrem a existência de dois, três, às vezes quatro nódulos absolutamente assintomáticos, e perguntam o que devem fazer diante desse achado. Muitas são encaminhadas para a cirurgia sem necessidade, porque temem conviver com o problema.
Drauzio – Por que surgem nódulos na tireoide?
Orlando Parise – Os nódulos da tireoide podem ter causas diversas. Podem ocorrer simplesmente por alterações da arquitetura morfológica da glândula, da forma como estoca os hormônios ou do substrato que usa para produzi-los, como podem ser neoplasias, ou seja, tumores malignos e benignos.
Não se sabe exatamente por que eles aparecem. Sabe-se, porém, que algumas condições predispõem ao surgimento dos nódulos. No caso específico do câncer, está provado que radiação na região da tireoide na infância, na base do pescoço, por exemplo, é causa comum da doença. Do mesmo modo, já se constatou que, em lugares como Hiroshima e Nagasaki, no Japão, e Chernobil, na Rússia, onde a exposição ambiental à radiação foi muito grande, a incidência de câncer da tireoide aumentou muito na população.
Entretanto, no que se refere aos nódulos, especificamente, não se conhece nenhuma causa que justifique seu aparecimento.
Drauzio – Obrigatoriamente, os nódulos provocam sintomas?
Orlando Parise – Não. Muitas vezes,

a pessoa percebe que tem um nódulo, quando engole na frente do espelho e nota uma estrutura anormal no pescoço. Aliás, a maioria dos nódulos não é palpável nem visível. Como você bem colocou, vivemos hoje quase uma epidemia de diagnóstico de nódulos na tireoide que assusta muito. Trata-se de um fenômeno mais ligado à sensibilidade dos métodos de diagnóstico que temos hoje e não tínhamos no passado.
Sabe-se que 50% da população adulta têm nódulos na tireoide. Imagine a ansiedade que iríamos gerar se todas as pessoas fizessem ultrassom e descobrissem que metade delas apresenta o problema. Na imagem 3
, temos um exemplo de nódulo visível e palpável, com indicação cirúrgica recomendada.
Drauzio – Os nódulos são mais frequentes nos homens ou nas mulheres?
Orlando Parise – São mais frequentes nas mulheres. Outro dado interessante é que, na infância, apenas 1% dos nódulos é palpável. Já, na idade adulta, esse número varia entre 5% e 7%.
Drauzio – Você disse que a prevalência de nódulos nas crianças é baixa. Com que idade essa prevalência começa a aumentar?
Orlando Parise – Ela é praticamente contínua ao longo dos anos. Nos idosos, a prevalência é maior do que nos adultos jovens, por exemplo. E mais: achados de autópsias rigorosas revelaram que 10% da população apresentavam microcarcinomas, isto é, tumores malignos de 1mm, 2mm, 3mm sem nenhuma repercussão nem manifestação clínica. Eram pessoas de idade avançada que tinham morrido de outras causas que não o câncer da tireoide.
Drauzio – Você poderia definir as palavras punção e tireoidectomia?
Orlando Parise – Tireoidectomia é a remoção terapêutica – parcial ou total – da tireoide e punção, o exame padrão que se realiza para conhecer o tipo de células que constituem o nódulo. A punção pode indicar que se trata de um nódulo maligno e a indicação, nesse caso, é cirúrgica; ou que é francamente benigno e a postura recomendada é observá-lo periodicamente pelo ultrassom. No entanto, muitas vezes, o resultado que deveria dar tranquilidade para o paciente gera muita ansiedade e são tomadas atitudes mais radicais e desnecessárias.
Drauzio – Como é feita a punção?
Orlando Parise – Para fazer a punção, o paciente não precisa de anestesia geral. No máximo, pessoas mais sensíveis recebem anestesia na pele. O exame consiste em introduzir uma agulha no nódulo e aspirar seu conteúdo com seringa especial para analisar sua celularidade.
Esse exame dá informação sobre o conteúdo do nódulo, mas não sobre sua arquitetura. Isso é um problema, porque para distinguir as doenças malignas das benignas é necessário conhecer a arquitetura da glândula e não apenas a celuridade do nódulo, uma vez que ela pode dar indícios, mas não permite fechar o diagnóstico. Por essa razão, muitas vezes, é indicada uma cirurgia para esclarecer as dúvidas geradas pela punção.
Drauzio – Nódulos de consistência firme, que crescem com maior rapidez, são candidatos à punção porque podem ser malignos?
Orlando Parise – Nódulos celulares causam maior preocupação do que os nódulos císticos com líquido em seu interior. O exame de ultrassom permite estabelecer a diferença entre um tipo e outro.
Carlos Francisco Gurgel – Juiz de Fora/MG – Qual a diferença entre nódulos benignos e câncer?
Orlando Parise – Nódulos são um componente anatômico da glândula, uma alteração localizada do tecido, que forma um caroço. O nódulo pode ou não ser um câncer. Este se caracteriza pelo descontrole na proliferação do tecido da tireoide.
Drauzio – O que deve ser feito quando houver grande suspeita de câncer de tireoide?
Orlando Parise – Comparado com os outros tipos de câncer, o de tireoide é indolente e, em pouquíssimos casos, representa ameaça à vida. Até prova ao contrário, seu prognóstico costuma ser tranquilo, especialmente se o problema foi diagnosticado numa pessoa jovem. As mais idosas, porém, requerem cuidados especiais, porque o câncer de tireoide é um pouco mais agressivo biologicamente a partir da quinta ou sexta década de vida. Portanto, aos 50 anos, a punção do nódulo é sempre mais indicada do que na juventude.
Se quiser conferir a entrevista na integra, você pode acessar esse link aqui.
Aprendi muito sobre este assunto.Obrigada..
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